O mercado financeiro é um dos lugares mais regulados pelas autoridades; afinal, é onde as pessoas (físicas e jurídicas) lidam com dinheiro, e onde há dinheiro também pode haver gente gananciosa e aproveitadora. Por isso, cada função profissional no mercado é controlada por meio de algum tipo de certificação. Aliás, a certificação não apenas atesta a idoneidade do profissional, como o seu conhecimento técnico a respeito do assunto, visto que, para se obter alguma certificação, é preciso passar em uma prova técnica e submeter seu histórico profissional à avaliação do órgão regulador. Em termos práticos, você confiaria em um uber ou taxista que nunca conseguiu tirar a sua CNH? Pois é, da mesma forma, os profissionais do mercado não certificados atuam ilegalmente e não possuem competência legalmente comprovada (neste caso “la garantia soy yo”). Agora, vamos focar em um profissional específico: o analista de mercados de capitais.

Esse profissional é responsável por analisar os ativos do mercado para identificar oportunidades de investimento e elaborar recomendações, seja por meio de relatórios ou mídias audiovisuais. O credenciamento desses profissionais é feito por uma entidade autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM): a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercados de Capitais (APIMEC). Todos os detalhes dessa atividade são regidos pela Instrução CVM 598, publicada em maio de 2018.

Quantos tipos de analistas existem?

Existem basicamente três tipos de certificação para analistas de mercado de capitais: CNPI, que faz suas recomendações por meio de análises fundamentalistas, ou seja, analisando os relatórios contábeis trimestrais das empresas de capital aberto; CNPI-T (T = técnico) que faz suas recomendações baseadas em análise técnica (gráficos e indicadores técnicos) e CNPI-P (P = pleno) que pode fazer recomendações tanto baseadas em análise técnica como fundamentalista. Note que nenhum desses certificados abrange tomadas de decisão com base em cenários (macroeconômico, de relações diplomáticas e comerciais, internacionais ou geopolíticas), e também não atendem especialistas de nicho, como operadores de commodities agrícolas, metálicas ou câmbio. Mas essa é uma discussão interna e saiba que há gente preocupada em regular isso também.

Quais são os requisitos para se tornar um analista?

Em primeiro lugar, o interessado precisa ter graduação em curso de nível superior (em qualquer área reconhecida pelo MEC), reputação ilibada, não possuir nenhum impedimento legal para o exercício de cargo em instituições financeiras, não ter sido condenado por algum crime, não exercer nenhuma atividade conflitante (como agente autônomo de investimento) e ter aprovação na qualificação técnica, composta por duas provas: uma de conteúdo brasileiro (CB) e outra de conteúdo técnico (CG1 para fundamentalista e CT1 para análise técnica). Atualmente, essas provas são aplicadas pela FGV e, para se inscrever (em qualquer período do ano), é necessário o pagamento de uma taxa. Todos os detalhes estão disponíveis em: http://www.apimec.com.br/Apimec/show.aspx?id_canal=502&id_materia=1408

Quais são as obrigações, os deveres e as limitações de um analista?

O analista certificado tem o direito de cobrar (direta ou indiretamente) por suas recomendações de investimento e, para manter seu credenciamento ativo, precisa pagar uma taxa trimestral para a APIMEC. Contudo, como sua opinião pode influenciar o mercado, o analista não pode operar os ativos que recomenda, justamente para não manipular o mercado e tirar vantagem própria em cima de suas recomendações. O analista também é proibido de negociar direta ou indiretamente em nome de terceiros (sendo essa função atribuída ao Gestor de Valores Mobiliários) assim como fazer recomendações em ativos com potencial conflito de interesse. Por outro lado, subentende-se que esse profissional está empenhado em gerar performance; contudo, não tem a obrigação de acertar 100% de suas recomendações (qualquer um em sã consciência sabe que um analista erra como qualquer profissional de estratégias). Mas, para efeito de controle dos órgãos responsáveis, todas as recomendações do analista são periodicamente reportadas à APIMEC e CVM.

Onde posso encontrar bons analistas e como eles podem me ajudar?

As corretoras de valores e bancos possuem seu próprio time de análise, mas, devido ao conflito de interesse (afinal, os analistas dessas instituições podem induzir seus clientes a operarem excessivamente para gerar mais taxas operacionais, ou ainda para dar liquidez a operações de sua própria tesouraria), em alguns países, essa atividade é executada por instituições independentes (as chamadas casas de análise e research), justamente para eliminar esse conflito de interesse. Tudo indica que a regulação por aqui também irá se adequar aos padrões internacionais um dia. Até lá, é recomendável que o trader/investidor contrate serviços de análise de casas independentes, como é o caso da: https://carteiradoinvestidor.com.br 

Como um analista pode ajudar um trader?

Sejamos realistas, são realmente poucas pessoas (geralmente muito experientes) que conseguem focar em múltiplas operações e mercados. Dessa forma, é natural que um day trader precise de ajuda na hora de alocar seus recursos em operações de longo prazo; ou um trader de análise técnica precise da recomendação de um analista fundamentalista; ou ainda, um investidor de carteiras de ações precise de pontos de suporte e resistência para fazer operações de curto prazo; e assim por diante. Em geral, as casas de análise possuem um time de analistas para cobrir diversas necessidades de estratégia de investimento.

Vale a pena um investidor se tornar analista?

Em primeiro lugar, isso é questão de perfil. Se um especialista abre mão de operar seu próprio capital, é bastante justo que ele seja remunerado por recomendar suas operações para terceiros e, dentro desse universo, há escalabilidade, ou seja, quanto mais pessoas contratam o serviço de análise, maior a receita. A mesma lógica se aplica a gestores, assim, em vez de operarem seu próprio capital, eles gerenciam fundos com dinheiro de terceiros e ganham uma taxa de administração. Quanto maior o fundo, maior é a receita do gestor. Justo, não? Concluindo, independentemente de ser um trader autônomo ou um analista de mercados de capitais, em primeiro lugar, é preciso que o profissional seja competente, tanto operando para si como recomendando para terceiros.

Agora que você conhece um pouco mais sobre essa atividade, faça um bom uso do analista, como se fosse mais uma ferramenta de mercado.


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Publicação: 03/09/2020 20:00
Atualização: 08/09/2020 18:53